Entenda por que é tão difícil o tratamento de dependência química
Idas e vindas de Amy Winehouse no tratamento, mostra como ele é complexo, demorado e exige participação da família e dos amigos.
Drogas e álcool. Combinação quase sempre letal. Por que é tão difícil para um usuário se tratar? Que força destrutiva é essa que leva alguém a abandonar amigos, parentes e trabalho para viver no caos? O Bom Dia Brasil foi ouvir os especialistas.
Todos acompanharam as idas e vindas de Amy Winehouse no tratamento, que é complexo, demorado, exige participação da família e dos amigos. A vítima do vício sabe que está acabando com a vida, mas não consegue escapar sozinha. Só na capital paulista, quarenta mil pessoas buscam ajuda nos centros de atenção da prefeitura.
Um homem tem 50 anos e usa drogas desde os 13. Procurou tratamento depois de perder a saúde e a família. “Eu queria ter criado os meus filhos e não consegui. Estou lutando para deixar [o vício]”, disse.
“No momento que ela depende daquela droga, que ela passa a ser uma pessoa que usa a droga para buscar prazer, bem estar e adaptação social, isso faz parte da vida dela. Quanto mais faz parte da vida dela, mais difícil ela se liberar daquela situação”, afirma coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Drogas, Rosângela Elias.
“A relação que cria entre o indivíduo com a substância psicoativa é complexa, multifatorial, que cria a dependência e o tratamento também tem que ter. Se fosse só a questão das medicações, não teria tantos dependentes químicos. A gente sairia distribuindo na crackolândia e todo mundo pararia. Não é isso”, explica o psiquiatra Crisanto Muniz, do Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) em São Paulo..
“Para alguns indivíduos, é o alívio de um sofrimento. Para outros, é um estado melhorado de viver. Enfim, é individual essa resposta, mas o indivíduo se adapta a esse efeito e ele não tem condição de ficar sem a droga”, aponta a psiquiatra Ana Cecília Rondeli Marques.
Um chopinho com os amigos, nada de mais. O problema é quando beber se torna uma necessidade, e as doses só aumentam. “A linha é muito tênue do uso recreacional de substâncias psicoativas da dependência química. O problema é que o álcool é em longo prazo. Você vai sentir as alterações na segunda década de uso, e aí é o momento que o paciente vem procurar ajuda. Já quebrou familiares e tem problemas psicossociais importantes. Diferente do crack, que é uma droga que a curto prazo, o paciente já percebe as perdas fisiológicas, como a dificuldade de respiração, então ele procura mais cedo”, afirma o psiquiatra Crisanto Muniz.
Ao longo dos anos, as drogas mudaram a aparência da cantora Amy Winehouse, morta no último sábado (25). Os abusos eram evidentes. Durante os shows, ela errava letras e não parava em pé. “Uma pessoa que se apresenta publicamente intoxicada, doente em função da droga, ela já perdeu a capacidade de decidir. Perdeu a critica, o controle sobre a própria doença”, avalia a psiquiatra Ana Cecília Rondeli Marques.
Pelo que se via nos palcos, psiquiatras dizem que a cantora já não tinha mais condições de se recuperar sozinha. Acreditam que a carreira deveria ter sido interrompida para que ela pudesse iniciar um tratamento. A participação da família é decisiva. “É fundamental para o tratamento do dependente de qualquer droga a participação da família, do entorno desse indivíduo”, observa a psiquiatra Ana Cecília Rondeli Marques.
“Eu trato prazer oferecendo prazer. Não adianta eu manter o paciente isolado daquela substância psicoativa 3 ou 6 meses e depois jogá-lo na rua novamente”, conta Crisanto.
O último levantamento feito pela Secretaria Nacional Antidrogas, mostrou que 12% da população entre 12 e 65 anos são dependentes de álcool.
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